O Agosto de Rock foi um evento transformador para a cena rock conquistense, não apenas por ampliar suas perspectivas e firmar seu lugar enquanto importante grupo cultural local, mas, ainda, por inovar em diversos aspectos, inspirando as gerações seguintes de produtores culturais.

Após o Agosto, festivais como o Rock Vertente, ACRock e Festival Suíça Bahiana perceberam a importância em ocupar espaços afastados do centro urbano, geralmente sítios, promovendo uma imersão do público ao ambiente do evento capaz, através da disponibilização de área para camping, restaurante, chuveiros e ambientes culturais independentes, de viabilizar o acolhimento de grande quantidade de pessoas durante o tempo de duração (2 a 3 dias, em fins de semana).

Este formato, inspirado pelo festival Woodstock de 1969 (EUA), fornece, a todos os envolvidos, sensações distintas de uma simples festa em ambiente urbano: para a produção, é uma solução simples para o problema do alto ruído, facilmente dissipado pelo relevo, neutralizando-o antes de incomodar alguma vizinhança. Para o público e os próprios artistas, o isolamento inspira a liberdade tão almejada pelos adeptos do rock: "morar" em uma comunidade alternativa durante um fim de semana fortalece laços sociais e o sentimento de pertença ao grupo que, inevitavelmente, retorna à sociedade mais robusto. Este foi justamente o efeito de três edições do Agosto para a cena rock conquistense do início dos anos 2000, implicando em avanços que duram até os dias atuais.

Um dos resultados, naturalmente, é tornar-se objeto de pesquisa. Há cada vez mais pessoas interessadas em conhecer a história da cena rock conquistense, inclusive em ambiente acadêmico. Neste ano, uma das principais iniciativas partiu do curso de Geografia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, a partir da disciplina Geografia Urbana, ministrada pela professora Ana Emília de Quadros Ferraz, que desenvolveu, junto à turma do 5º semestre, uma atividade envolvendo grupos de trabalho dedicados a diferentes aspectos da cidade de Vitória da Conquista, sob o olhar científico, com o objetivo de produzir videodocumentários, que foram exibidos publicamente. Destes, um debruçou-se sobre as peculiaridades geográficas do Agosto de Rock.

O grupo formado pelos discentes Venilson Souza Dias, João Gabriel Andrade Sampaio Oliveira, Mirian Vitoria Alves Moretti Vieira, realizou entrevistas com Alan Kardec e Adão Albuquerque, idealizadores e produtores do festival, e Plácido Oliveira, músico e historiador (Memória Musical do Sudoeste da Bahia), também membro da produção da edição 2024, prevista para o último final de semana de agosto. Também foi realizada uma pesquisa documental, especialmente voltada à captação de imagens das edições anteriores (2001, 2002 e 2003).

O resultado foi um minidocumentário com 14 minutos de duração, que foi exibido em sala de aula e no teatro do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, em 20 de junho, com acesso aberto, abrigando, ainda, uma exposição fotográfica envolvendo todos os grupos. Os discentes também desenvolveram um roteiro e utilizaram de seus próprios recursos para o processo de edição. Posteriormente ao evento de exibição, o vídeo foi disponibilizado publicamente na plataforma YouTube, possibilitando sua consulta por toda a comunidade interessada, cumprindo um dos principais objetivos da universidade pública: a democratização do acesso ao conhecimento.

Apesar de se enxergar como um nicho "periférico", "alternativo", "underground", o rock escolheu o distanciamento espacial para cumprir o conceito proposto, e não por alguma hostilidade da sociedade externa, é o que explicam os entrevistados. O próprio slogan do festival, "se você não for, azar o seu!" reflete o espírito contestador e rebelde do gênero musical, em oposição aos explorados com maior ênfase pela indústria cultural. Este é um dos temas abordados pelo documentário. Assista, na íntegra, abaixo e contribua com suas impressões. 

O Agosto de Rock realizará sua quarta edição em 30 e 31 de agosto de 2024.


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